SURPRESA QUE NEM SURPREENDE


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SÃO PAULO |  Depois que Luca di Montezemolo falou que parou de ver o GP do Bahrein para evitar o sofrimento, juro que me perguntei até quando Stefano Domenicali resistiria no cargo de chefe de equipe. São fracassos atrás de fracassos desde 2009, só com o esforçado Fernando Alonso salvando a lavoura em alguns momentos. Mas nem sempre o espanhol consegue operar milagres — como não parece que vai conseguir em 2014. Fiquei surpreso por ver que Domenicali saiu mais cedo do que eu imaginava, não pela saída em si.

Se a gente quiser falar de uma troca de comando que realmente surpreendeu todo mundo, é só lembrarmos de Norbert Haug abandonando a Mercedes no fim de 2012. A montadora é forte como é no automobilismo hoje em dia por causa dele, e ninguém imaginava que os resultados medianos dos três primeiros anos com equipe própria na F1 fossem ser suficientes para fazê-lo jogar a toalha.

Mas voltemos aos italianos.

Reproduzo aqui uma história que me contaram outro dia, comparando Jean Todt com seu sucessor. O atual presidente da FIA era aquele chefe que, quando entrava na sala, via todo mundo ficar quieto. Aquele professor do qual todos os alunos têm medo. Domenicali, nem tanto. É daqueles professores que entram e ainda precisam esperar um pouco até os alunos todos se sentarem. Em outras palavras, não tem o mesmo comando que tinha Todt.

O começo de Domenicali na Ferrari foi bom, com a conquista do Mundial de Construtores em 2008. Mas aquilo foi no embalo da estrutura vencedora dos anos anteriores, que ainda estava no lugar. Em 2009, quando teve início uma série de mudanças no regulamento, o que se viu foi um time desorganizado que não conseguia desenvolver seus carros ao longo do ano nem mesmo nas temporadas em que as primeiras provas eram boas. Tiveram até que ir para o túnel de vento da Toyota, em Colônia, para ver se davam um jeito. Não houve êxito.

2014 tinha que ser um ano para uma volta por cima. Ainda mais pelo fato de os motores, grande orgulho da Ferrari, voltarem a ser os protagonistas da F1. Tudo bem que é um V6 e que a Ferrari tem até vergonha de fazer um motor tão pequeno assim, mas tinha que fazer bem feito e não fez. A F14 T é um carro de quinta posição e olha lá. Sem falar no que a equipe gastou para recontratar Kimi Räikkönen. Aquele que, na gestão do mesmo Domenicali, foi pago por um ano para não correr. E que agora vai ficar emburrado como naqueles tempos, mas enchendo o bolso de grana.

Cabeças rolariam.

Desse Matteo Mattiacci, confesso que nunca tinha ouvido falar. Não é um cara de corridas, mas é um cara que fez a Ferrari ganhar muito dinheiro ao redor do mundo. Agora vai ter a missão de fazer a montadora não perder mais dinheiro na F1.

Essa chegada lembra um pouco a de outro italiano que não manjava nada de corrida: Flavio Briatore. Quando Luciano Benetton o contratou para chefiar o time de F1 na década de 1980, até risada deram. Diziam que Briatore não sabia o que era uma porca e um parafuso. Não sabia mesmo, mas aprendeu e virou um dos dirigentes mais importantes da categoria por duas décadas. Mesmo hoje, cinco anos depois de ser banido do esporte, continua tendo influência nos negócios de muita gente. Qual era o currículo dele antes da F1? Fez a United Colors of Benetton ganhar muito dinheiro ao redor do mundo.

Obviamente, é bem diferente entrar no Mundial como chefe da Benetton. O que aquele time ganhasse seria lucro. O caso da Ferrari é outro.

Mattiacci não deixa de ser uma aposta de risco, mas também não é fácil encontrar alguém preparado para assumir uma Ferrari da vida. Tem costas quentes dentro da firma é essencial. Como tinha Montezemolo, por exemplo, que entrou lá novo de tudo, saiu para tomar conta de outras coisas na Fiat e voltou no começo dos anos 1990.

Ao mesmo tempo, será interessante notar qual será a paciência dos comandantes daqui em diante. Naquele tempo de crise no final do século passado, a Ferrari trocava peças-chave como os clubes brasileiros trocam de técnico — e na F1 a coisa é mais complexa do que isso. Resultados não são conquistados em curto prazo, e não deve ser fácil evoluir esse V6 turbo com as limitações impostas pelo regulamento. Logo, o time de projetistas, agora liderado por James Allison, vai ter muito trabalho para encontrar uma forma de alcançar a Mercedes. Também por isso será preciso contar a confiança de Montezemolo e dos demais diretores da Ferrari e da Fiat.

Por ora, aguardamos ansiosamente pelas primeiras aparições públicas de Mattiacci como chefe da maior campeã da história da F1, que devem acontecer neste fim de semana.

AS DUPLAS DA F1 2014


SÃO PAULO | Está definido o grid da F1 2014. Foram anunciados na última terça-feira os dois pilotos da Caterham, Kamui Kobayashi, que volta à categoria após uma temporada, e o sueco Marcus Ericsson. Aproveitei a ocasião para fazer um ranking das que considero as melhores — e as piores — duplas da temporada. Vamos lá.

1) FERRARI — ALONSO E RÄIKKÖNEN

Clar0 que a melhor dupla é a única que tem dois campeões mundiais. Será a mais interessante de se observar, também. Depois de Vettel, esses foram os dois melhores pilotos da F1 nos últimos dois anos e, se não entrarem em rota de colisão — e, obviamente, a Ferrari construir um bom carro — serão os dois que mais chance terão de quebrar a hegemonia do alemão. Alonso e Kimi somam 52 vitórias na carreira, mais do que qualquer outra dupla do grid.

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2) MERCEDES — HAMILTON E ROSBERG

Hamilton e Rosberg trabalharam muito bem em conjunto em 2013. Sã0 dois pilotos de estilos diferentes, mas que, no final, terminam com o mesmo tempo de volta. Embora tenha vencido somente uma corrida no ano passado, o primeiro na Mercedes, o inglês é um piloto que sabe ganhar GPs — ganhou ao menos um em todas as temporadas em que competiu na F1. Rosberg é bom piloto, meio low profile dentro do time, mas, mesmo fora dos holofotes, é capaz de conquistar ótimos resultados e forçar Hamilton a elevar o nível para vencer a batalha interna.

3) RED BULL — VETTEL E RICCIARDO

De Sebastian Vettel, não é preciso falar nada. Daniel Ricciardo é que tem muito a provar em 2014. O australiano subiu para a Red Bull e agora tem a obrigação de andar na frente e vencer GPs. Acredito que será capaz de fazê-lo. É um piloto rápido, deve conseguir bons resultados em treinos classificatórios e aí terá a missão de se manter nas primeiras posições aos domingos — não foi o seu ponto forte enquanto esteve na Toro Rosso.

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4) McLAREN — BUTTON E MAGNUSSEN

Aqui o quinto campeão mundial do grid junto do promissor novato que a McLaren resolveu efetivar. Button é capaz de liderar uma equipe, já mostrou isso em mais de uma oportunidade, mas tenho a impressão de que ele precisa de um companheiro que represente um desafio. Magnussen é muito bom. Bem melhor que o pai. A questão é que ele vai estrear na F1 sem ter andado decentemente com o carro, testou somente nos simuladores. Ainda assim, acredito que seja uma boa aposta.

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5) WILLIAMS — MASSA E BOTTAS

Um bom conjunto que pode dar certo. Bottas foi o melhor estreante de 2013 e mereceu a chance de continuar na F1 na Williams. Mostrou talento, esse finlandês. Massa talvez tenha mais a provar do que o colega, mas também tem capacidade para mostrar que pode liderar uma equipe. Fora da Ferrari e sem a companhia de Alonso, o brasileiro pode voltar a ser aquele piloto que foi até 2009 — mas é só dentro da pista que veremos quanto a mudança de equipe vai servir de impulso para essa recuperação pessoal.

6) FORCE INDIA — HÜLKENBERG E PÉREZ

Nico Hülkenberg, o zicado-mor da F1, terminou 2013 mostrando todo o seu potencial. Sergio Pérez, nem tanto. Acabou dispensado pela McLaren. É uma dupla que pode render bons frutos para a Force India. É ao menos melhor do que a do ano passado (Hülk melhor que Di Resta e Pérez melhor que Sutil).

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7) LOTUS — GROSJEAN E MALDONADO

Não me parece que essa é uma dupla que vai trabalhar bem em conjunto. Romain Grosjean andou bem demais no fim de 2013 e tem capacidade de liderar a Lotus — vai depender só de como o carro vai se comportar. E como Maldonado vai se comportar. O venezuelano até é rápido, mas teve um ano difícil em 2013 e precisará mostrar superação, além de cabeça no lugar para lidar com um rival que tem total condição de andar à frente.

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8) TORO ROSSO — VERGNE E KVYAT

Jean-Éric Vergne tem um bom ritmo de corrida e, a julgar pelo o que aconteceu com outros pilotos da Red Bull, deve ter sua última chance na Toro Rosso neste ano. Ninguém correu lá por mais de três anos. Ou seja: precisará mostrar mais do que mostrou no início da carreira na F1 para provar que pode, quem sabe, ser promovido à RBR em algum momento ou, ao menos, garantir vaga em outro time. Só que, para isso, terá de bater um promissor Daniil Kvyat, que terá de se adaptar a um carro mais potente do que qualquer outro que já pilotou. Olho no russo.

9) CATERHAM — KOBAYASHI E ERICSSON

Kobayashi, que está voltando à F1, já conhecemos. Rápido, capaz de dar show, só vai ser difícil isso acontecer com ele pilotando a Caterham. Junto dele está o sueco Marcus Ericsson, novato de quem podemos esperar mais do que Charles Pic e Giedo van der Garde, ainda que não muito.

10) SAUBER — GUTIÉRREZ E SUTIL

Se o carro for bom, esses dois até podem conseguir bons pontos e resultados melhores, mas ficam na leva dos piores do grid de 2014.

11) MARUSSIA — BIANCHI E CHILTON

Jules Bianchi foi bem em 2013, Max Chilton, nem tanto, embora tenha completado todas as 19 corridas — um recorde. Até dá para imaginar Bianchi conseguindo algo mais notável, mas a dupla em si considero a mais fraca do grid.

NA ÍNTEGRA: GP DO BRASIL DE 2003


2003-f1-brasil-jordan-equipeSÃO PAULO | Está no GRANDE PRÊMIO uma matéria especial que preparei sobre o GP do Brasil de 2003, com entrevista com Giancarlo Fisichella, que venceu pela primeira vez na F1 naquele 6 de abril. Choveu tanto naquele dia que alagou a Avenida João Dias, ali perto de casa e também do Autódromo José Carlos Pace.

Há dez anos, a última edição da prova disputada no início da temporada teve contornos tragicômicos e foi uma das corridas mais imprevisíveis de todos os tempos. Das corridas de Interlagos, só a de 2012 foi mais insana e estupenda. Em 2003, teve largada com SC, sete carros rodando numa curva só, suspensão quebrando do nada no meio da reta, a pane seca do então líder Rubens Barrichello e as pancas de Mark Webber e Fernando Alonso na Curva do Café.

Num 10+ da REVISTA WARM UP, classificamos essa corrida na terceira posição, atrás dos GPs de 2012 e de 2008.

Leiam lá e assistam à corrida aqui, em inglês, que é o que está quase na íntegra no YouTube:

Depois que lancei o post aqui, o bom amigo Hugo Becker me mandou também um link da transmissão da TV Globo. A imagem está em sépia, mas vale pela narração. Divirtam-se:

ALONSO, TRIVICE


SÃO PAULO | O quinto lugar no GP dos Estados Unidos garantiu a Fernando Alonso o terceiro vice-campeonato da F1 em quatro anos. Exceção feita a 2011, o espanhol foi o segundo colocado nos títulos de Sebastian Vettel em 2010, 2012 e 2013. Claro que não é nenhum demérito ser vice-campeão, mas é algo que pode incomodar, ainda mais para alguém como ele. Obviamente que ele não gosta de ser “o primeiro dos mortais”, como definiu. E o asturiano foi para a Ferrari achando que ia engordar sua lista de títulos, o que ainda não aconteceu.

Alonso brigou pelo título da F1 em sete temporadas: 2005, 2006, 2007, 2010, 2011, 2012 e 2013. Foi campeão nos dois primeiros anos, terceiro em 2007, quarto em 2011 — e vice nos anos já mencionados.

AUSTIN (TEXAS) 17/11/2013  © FOTO STUDIO COLOMBO X FERRARINa história da F1, apenas cinco pilotos foram vice-campeões três vezes. Eis a lista:

  1. Stirling Moss – 1955, 1956, 1957, 1958
  2. Alain Prost – 1983, 1984, 1988, 1990
  3. Graham Hill – 1963, 1964, 1965
  4. Nigel Mansell – 1986, 1987, 1991
  5. Fernando Alonso – 2010, 2012, 2013

Algumas considerações:

  • Apenas Stirling Moss nunca foi campeão;
  • Nenhum tem mais títulos que vices;
  • Só Alonso e Hill foram trivices depois de serem campeões pela primeira vez;
  • Mansell foi vice três vezes antes de ser campeão;
  • Alonso e Moss são os que perderam três vezes para o mesmo piloto (Vettel e Fangio);

Esse último item é o mais representativo da razão que deve frustrar Alonso ao ponto de ele ter pedido uma Red Bull de aniversário, lá no GP da Hungria. Alonso e Moss foram vice-campeões em uma época em que a F1 era dominada por um piloto. Chegar em segundo faz pensar: “Era para Alonso ser tri ou tetra, não fosse o Vettel”. Assim como foi com David Coulthard, Juan Pablo Montoya, Kimi Räikkönen ou principalmente Rubens Barrichello na época em que só deu Michael Schumacher na F1.

Porém, ao se fazer comentários desse tipo, não se pode desmerecer quem está ganhando. Fangio, Schumacher e Vettel merecem todos os louros pelo o que fizeram nos anos em que foram campeões. E, como eu mesmo já disse por aqui em outras ocasiões, considero Vettel mais piloto que Alonso. Em outras palavras, acho que se os dois tivessem o mesmo carro desde 2010, ambos seriam tricampeões. Mas aí é palpite, opinião pessoal, chute, e cada um que pense do jeito que preferir.

A PUNIÇÃO DE WEBBER


SÃO PAULO | Foram merecidas as reprimendas aplicadas pela FIA a Mark Webber e Fernando Alonso. Eu tenho criticado bastante as punições que os comissários estão dando durante as corridas, muitas delas são exageradas, especialmente aquelas que envolvem ultrapassagens. Mas esse vídeo mostra que Webber e Alonso tinham, sim, de ser advertidos.

O regulamento diz que ninguém pode entrar na pista sem a autorização de um fiscal entre o início da volta de apresentação e o momento em que o último carro chega ao Parque Fechado. Webber saiu correndo igual um bêbado tentando pegar o metrô antes da meia-noite e quase foi atropelado. Alonso parou o carro em local perigoso e fez as Mercedes se desdobrarem para não baterem, tipo os caras que param no valet do Rascal da Alameda Santos, embaixo de uma placa de proibido parar e estacionar.

O problema não foi nem a carona em si, foi o que os pilotos fizeram para pegar a carona. Numa dessas, alguém bate, alguém é atropelado, e o caos é grande. Todo mundo sai cobrando da FIA medidas com relação à segurança.

Claro que perder dez posições no grid do GP da Coreia é uma pena maior que o crime. Se não fosse isso, ninguém estaria reclamando de nada. Mas, nesse caso, a FIA fez o certo. Melhor prevenir que remediar.

UMA VOLTA POR CIMA FORA DAS PISTAS


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SÃO PAULO | Demorei um pouco para conseguir arranjar tempo para escrever aqui no blog – que anda bastante empoeirado – sobre a saída de Felipe Massa da Ferrari. O lado bom disso é que deu para observar várias reações à notícia de que, após oito temporadas, o brasileiro não vai mais correr pela equipe mais vencedora da F1. Admito que fiquei impressionado com como a maioria dessas reações foi positiva.

Não quero, de forma alguma, menosprezar Massa. Pelo contrário. Fiquei surpreso porque, desde o início de 2010, ele andou muito abaixo do que se esperava dele e muito menos do que outros pilotos de ponta da F1. Mas ele saiu da Ferrari pela porta da frente, e o anúncio, por incrível que pareça, deu uma levantada na imagem de Massa. Ainda foram feitas homenagens pela própria equipe e também por Alonso.

A própria imprensa europeia está fazendo elogios ao paulista. Li, hoje, na Autosport, um texto muito bom do Edd Straw: “Não esqueçam o quão bom Massa foi.”

Uma volta por cima fora das pistas. Acho que dá para resumir assim.

Deixar a Ferrari como o segundo piloto que mais defendeu o time é uma marca respeitável. Até porque Maranello costuma ser um ambiente um pouco hostil para os pilotos. A pressão por resultados é enorme. E, quatro temporadas, os resultados de Massa foram ótimos. Ótimos mesmo.

2006 foi um ano de adaptação. Não era para se esperar que ele fosse bater Michael Schumacher. Mas, observando o alemão, ele aprendeu direitinho. Foi terceiro no campeonato, marcou três poles, ganhou duas corridas e, mais do que isso, moral. A festa feita no GP do Brasil o deixou ainda mais confiante para fazer frente a Kimi Räikkönen em 2007.

E 2007, ao contrário do que muita gente pensa, foi, sim, um bom ano. Massa venceu no Bahrein e na Espanha para começar o ano bem. Na Espanha, teve aquela dividida de curva com Fernando Alonso que mostrou: “Estou aqui para ser campeão. Não vou amolecer.” Ele tornou a brigar com o espanhol em Nürburgring. Venceu de novo na Turquia e, no GP da Itália, estava à frente de Räikkönen. Foi então que uma falha na suspensão acabou com seu fôlego na luta pelo título.

De 2008, não tem nem muito o que falar. Três corridas ruins, várias boas, algumas impecáveis. Seis vitórias. E nada de tremer na hora mais importante: a decisão, em Interlagos. Massa fez tudo o que podia para ser campeão. Hamilton também. Os dois mereceram demais e foi um detalhe que definiu tudo.

Mesmo em 2009, Massa foi bem. O carro era ruim, mas ele estava melhor que Räikkönen e arrisco dizer que tinha uma boa chance de vencer na Hungria. Ah, a Hungria.

Mas a confiança no brasileiro era tanta que a Ferrari optou por romper com Kimi, que tinha contrato até o fim de 2010, para renovar com Felipe, cujo vínculo acabaria em 2009.

De lá para cá é que o jogo começou a virar. Na companhia de Fernando Alonso, os resultados não foram os mesmos. E pode ser até ingenuidade minha, mas tenho a impressão de que o espanhol se tornou o grande problema de Felipe. Por mais que ele tentasse, não conseguia ficar à frente. Não tem jeito, a autoconfiança vai diminuindo. Quando você tem a chance de se recuperar, ouve a mensagem de rádio mais famosa da história da F1.

Para não dizer que nada de bom aconteceu, houve o fim de 2012. Uma boa arrancada depois do momento mais delicado de Massa, em termos de performance. A coisa não ia nas primeiras corridas. Na Inglaterra, ele começou a reagir, uma reação coroada com o pódio no Brasil e serviu de impulso para um bom início de 2013.

Agora, a saída de Massa representa um fenômeno curioso: ao mesmo tempo em que o valor de mercado caiu – ele não deve conseguir um contrato bom como o que tinha na Ferrari –, o respeito aumentou. A Lotus, ao que parece, vai escolher entre ele e Nico Hülkenberg. E aí Felipe, que saiu da Ferrari ressaltando o sonho em ser campeão, vai ter a chance de dar uma volta por cima dentro das pistas também, mesmo que não realize esse sonho.

Aliás, isso pode acontecer daqui até o fim do ano. Sem preocupação, sem pressão, ele tem sete corridas para mostrar que merece continuar na F1. E se não conseguir um lugar no grid de 2014, terá, ao menos, se despedido em grande estilo.

O PECADO DE VETTEL


F1 Grand Prix of Belgium

SÃO PAULO | Sebastian Vettel venceu pela 31ª vez na carreira e igualou Nigel Mansell. Aos 26 anos, é o quinto maior vencedor da história da F1. Caminha para o tetracampeonato mundial consecutivo. E eu ainda tento entender como as pessoas hesitam tanto em dizer que ele vai se tornar um dos gênios do esporte ao mesmo tempo em que exaltam tanto pilotos com números semelhantes ou mesmo piores — e não são só os números que fazem deste alemão um grande piloto.

Tudo por causa de um grande pecado: andar com o melhor carro. Andar no carro projetado por Adrian Newey. Tem gente que ainda diz que Vettel não enfrentou adversários de peso. É desmerecer demais o talento dele.

Vettel tem 26 anos, 39 poles, 31 vitórias, três títulos mundiais consecutivos. Foi o mais jovem campeão, o mais jovem bicampeão e o mais jovem tricampeão. Conquistou esses títulos correndo contra outros cinco campeões do mundo: Fernando Alonso, Lewis Hamilton, Jenson Button, Michael Schumacher e Kimi Räikkönen (esse, só em 2012).

Se Vettel confirmar o favoritismo e ganhar de novo neste ano, fará o que apenas Michael Schumacher e Juan Manuel Fangio fizeram. Deixará para trás Niki Lauda, Ayrton Senna, Jackie Stewart, Jack Brabham e Nelson Piquet. Empatará com Alain Prost. Aos 26 anos.

Com a vitória deste domingo, ele tem tantas quanto Nigel Mansell. “Ah, mas Mansell teve adversários mais fortes”. Ok, Mansell teve Prost, Piquet e Senna. São melhores do que os que estão aí brigando com Vettel hoje. Mas Alonso, Button, Hamilton e Kimi estão longe de ser ruins. Mansell foi campeão em um ano em que correu só contra Senna — Schumacher ainda não tinha nenhum título, fazia sua primeira temporada completa na F1.

É bem provável que, daqui a duas semanas, Vettel vença o GP da Itália e empate com Fernando Alonso. Vai ter um monte de gente dizendo que Vettel não chega aos pés do espanhol. Respeito algumas dessas opiniões, mas discordo de todas elas. Não tem essa de que o alemão é tricampeão porque tem o melhor carro e Alonso está em uma Ferrari capenga.

Alonso foi campeão em 2005 e 2006 com o melhor carro. Em 2005, a McLaren era mais rápida, mas quebrava o tempo todo. Que nem em 2012. No fim das contas, a Renault e a Red Bull andaram melhor em um número maior de corridas e permitiram a seus pilotos conquistarem os títulos.

Alonso perdeu um título em que tinha o melhor carro nas mãos, o de 2007. Poderia ter sido tricampeão, não foi. Vettel aproveitou os três anos em que teve o melhor carro.

E Alonso caiu demais de produção na reta final de quatro dos cinco campeonatos que disputou: 2005, 2006, 2007 e 2012. Não importa qual tenha sido o motivo, podem reparar que a primeira metade da temporada do asturiano foi bem melhor que a segunda. A única exceção foi 2010, quando ele cresceu na segunda metade e chegou à decisão como líder. Vettel é o oposto, começou mal e se recuperou no final.

“Ah, mas o Alonso vem de trás, passando todo mundo, Vettel não passa ninguém. Olha só a corrida de hoje.” Assista o GP de Abu Dhabi de 2012 — naquela pista em que não dá para passar ninguém –, ou o GP do Brasil de 2012.

Qual o problema do cara querer assumir a primeira posição no começo e dominar a corrida? Por que vocês acham que o Senna era tão obstinado por conquistar pole-positions?

Tá, é chato ver um domínio de um piloto. Foi chato com Schumacher e pode estar chato, agora, com Vettel. Mas esse piloto de 26 anos tem tudo para derrubar as marcas de seu ídolo de infância e você vai ficar aí, chupando dedo e dizendo que é só por causa do carro e do Newey. Não é.

Alonso na Red Bull é cenário pouco provável


BUDAPESTE | A notícia é bem interessante: empresário de Alonso se reuniu com Christian Horner em Hungaroring. Horner não negou e admitiu que a Red Bull teria interesse em contar com os serviços do espanhol. Mas esse é um cenário que eu considero pouco provável. Bem pouco.

Das três opções que a Red Bull tem, Ricciardo, Räikkönen e Alonso, vejo no bicampeão a mais arriscada. Não pela capacidade de Alonso, é claro, mas pelo temperamento. Contratá-lo é arriscar estragar o ambiente vencedor que foi criado nos últimos anos, um risco que a equipe não precisa correr.

Sem contar que Alonso tem contrato até 2016. Aí, resta saber sob quais condições esse contrato pode ser quebrado. Multa? Cláusulas de desempenho? Coisa pouca não é, certamente.

E tudo pode não passar de uma pressãozinha, apenas. Da Red Bull, sobre Kimi, do tipo: “Vem cá logo pra gente assinar esse contrato que tem mais gente querendo, ó”. Ou então de Alonso sobre a Ferrari: “Ó, deem um jeito nesses Fiat 147 que vocês fazem ou vou embora”.

A insatisfação de Alonso com a Ferrari vai ficando cada vez mais evidente. Ele foi para a equipe pensando que brigaria por títulos e vitórias o tempo todo. Por título, brigou duas vezes em três anos, mas sempre teve carros inferiores. Neste meio de 2013, clama, semana após semana, por melhorias no carro. Ele sabe que será difícil brigar com Vettel nessas condições. Mas seria mais difícil ainda encarar Vettel dentro da Red Bull, mais do que foi com Lewis Hamilton na McLaren.

Continuo achando que a melhor opção para a Red Bull é Räikkönen, e vice-versa. O único motivo para o finlandês não querer ir para a Red Bull é não querer entrar em um ambiente tão favorável a Vettel. Por mais frio e indiferente que seja, Kimi também é realista. Não basta ser frio, escandinavo, homem de gelo, tem que ser quase zen.

Por isso, penso que o mais legal seria ver Daniel Ricciardo subindo para a equipe tricampeã mundial em 2014. O australiano já mostrou bastante potencial, está lá dentro, conhece bem o ambiente e promete fazer bonito se tiver a chance.

O blog esteve um tanto parado nas últimas semanas, tudo devido a um acúmulo de atividades e a essa viagem à Europa. Mas, voltando ao Brasil, o que deve acontecer nesta semana – se não der tudo errado, como costuma acontecer – vou procurar atualizar a bagaça com mais frequência.

Passando a régua: GP de Mônaco – corrida


SÃO PAULO | 20h12 | Demorou, mas saiu o podcast que eu preparei sobre o GP de Mônaco. No mesmo esquema de sempre: equipe por equipe, estatísticas, informações e palpites sobre o que aconteceu na última corrida. Na próxima, vou tentar soltar mais cedo a bagaça. Para ouvir a edição de Mônaco, é só clicar aí embaixo:

Passando a régua: GP da Espanha – corrida


SÃO PAULO | 8h | Ficou um pouco atrasado o podcast sobre o GP da Espanha, mas está no ar, enfim. É que eu aproveitei o domingo de folga no Dia das Mães para sair com a namorada e com amigos, já que a mãe estava viajando. Mas isso não é da conta de vocês. Vitória maiúscula de Fernando Alonso, ótima corrida de Felipe Massa. Fazia tempo que a Ferrari não andava tão bem em um fim de semana, com os dois carros. Mas Kimi Räikkönen, cada vez mais, se mostra como um fortíssimo candidato ao título. Para ouvir a rodada de comentários e palpites sobre a corrida de ontem, é só clicar no play aí embaixo. Também dá para baixar.